Poesia emprestada.....

Oi gente, eu quero muito dividir com vocês a majestosa obra de um poeta grandioso, Profº Dr. Neif Mattar.
Publicou um livro em 1978, e minha mãe teve a felicidade de recebe-lo de suas mãos como um presente em 1977 antes de seu lançamento, o livro leva o título de "Cantos do meu mundo".
Eu sou APAIXONADA por esse livro, e hoje escolhi uma linda poesia para dividir com vocês.
Permitam-se.
Bjus

SIMBIOSE

Quero entender e não consigo
Queres explicar e não sabes.

Tudo foi obra do tempo,
Esse escultor terrível,
Criador de montros e de belezas.
O tempo
Que mata virtudes e ressucita sombras,
Ironizando os destinos,
Transformando a matéria,
Brincando com o infinito
E guardando a vida e a morte.

Sei, apenas,
Que hoje estamos somados um ao outro,
Somos a unidade informe e angustiosa
Que resultou de uma mistura sem lei
E de uma combinação proibida.

Debalde procurar explicação,
Inútil interpretar a verdade,
Esta verdade que construimos
E da qual somos escravos definitivos.

Saibamos tão só que eu sou tu
E que tu vives em mim.
Teu silêncio está no meu grito
Meus nervos vibram no teu corpo.
Teus olhos giram em minhas órbitas,
Meu peito arfa no teu respirar
E teus caminhos são andados pelos meus pés.

Minhas lágrimas molham tuas faces
E tuas alegrias enfeitam minha alma.

Choro tuas dores e sofres minhas insônias,
Nos teus lábios moram meus cantos
E nos meus lábios passeia o teu sorriso.

No meu plasma te revitalizas
E no teu cérebro está meu pensamento.

Meu sangue ferve nas tuas veias abertas
E tuas energias estão nos meus músculos quentes.

Amas o meu Deus
Venero os teus santos.

Velas o meu adormecer
Vigio o teu despertar.

Antecipas minhas intenções
Eu adivinho tua vontade.

No silêncio da nossa voz
Está o verbo do nosso diálogo.

Estou contigo nas tuas ausências
E está comigo nas minhas partidas.

Nesta simbiose estranha,
Maior que a própria vida,
Vamos rindo do tempo, esse escultor terrível,
Que se tornou menor que sua obra,
Como um criador submisso à criatura.
Nesta transfusão de energias,
Vivendo um tropismo humano,
Somos a definição da unidade.

Por isso,
A morte de um viverá na vida do outro
A vida de um morrerá na morte do outro.

E assim,
Iremos vencendo os cansaços,
Os luares e os sois,
Vencendo o tédio,
As esperas úteis e inúteis,
Vencendo tudo, inclusive a nós mesmos.

Um dia será o fim de tudo
E de tudo ficará apenas a lembrança
Da história de um feitiço
Que o tempo não soube desmanchar.

Porque,
Maiores que o próprio tempo,
Mais fortes do que a vontade
E acima da consciência,
Estão os mistérios do amor
E os segredos do coração.

                                       (Neif Mattar)